Antiga Serpente do Deserto

Make Istanbul Constantinople Again

Carlos Ramalhete
10 min readJul 24, 2020
O maior inimigo da civilização ocidental sempre foi o Islã

O aspirante do momento a sultão otomano, o presidente turco Recep Erdogan, resolveu, como parte de sua campanha de destruição do legado laicista de Attaturk, que a antiga Catedral de Constantinopla, dedicada à Santa Sofia, será novamente transformada em mesquita. Desde que, no início do século passado, Attaturk resolveu fazer da Turquia um país europeu e laicista, a antiga catedral vinha sendo tratada como museu. É provável que este déspota turco sorrisse se visse as antigas catedrais inglesas, roubadas pelos anglicanos, sendo hoje usadas para tudo, menos para o culto divino. Tendo sido expulsas as prostrações muçulmanas de seu interior, todavia, tornou-se possível que belíssimos mosaicos e afrescos fossem redescobertos, após terem passado séculos encobertos para que os muçulmanos pudessem profanar a catedral com seu culto a um demônio do deserto sem que as imagens lhes fizessem recordar o Deus verdadeiro.

A transformação da antiga catedral em museu fez recrudescer de lado a lado um ódio que existe desde o surgimento do Islã, ao mais uma vez lembrar a todos da verdade indesejada de que o Islã e o Ocidente são inimigos em perpétua batalha. Este ódio surgiu quando o inventor da suposta revelação do Crescente e Estrela, o falso profeta Maomé, percebeu que nem os judeus nem os cristãos apresentavam qualquer interesse que fosse em sua nova heresia. Afinal, ela não era mais que uma mistura empobrecida de judaísmo, cristianismo nestoriano e superstições pagãs do deserto. Até mesmo o nome da divindade única adorada pelos muçulmanos era apenas o nome atribuído a um demônio adorado em culto pagão pelas sociedades primitivas do deserto, e associado a um pedaço de meteoro preservado no templo pagão que deu origem à Caaba.

Quando a serpente elevou sua feia cabeça por sobre as quentes areias do deserto árabe, a Igreja, então antiga de pouco mais de seiscentos anos, havia já se espalhado por todo o entorno do Mediterrâneo. A Arábia, terra deserta habitada por pouco mais que nômades, situava-se pouco além das fronteiras do mundo cristão, onde ainda se enfrentavam a Fé católica e o paganismo. A cidade imperial de Constantinopla, situada em área de fala e cultura grega desde tempos imemoriais, era o centro de irradiação cristã do Oriente.

O ódio inicial entre a nossa sociedade e a de que Erdogan quer-se representante veio da parte muçulmana. A data precisa do início desta inimizade é fácil de discernir: ela surgiu quando o fundador da heresia islâmica deu-se conta de que nem judeus nem, menos ainda, cristãos seriam convencidos pacificamente a adotar a religião que inventara. Aliás, que inventava ainda, posto que a cada vez que mudava de opinião ele recebia uma suposta revelação do demônio que adorava para apoiar o que queria fazer. Não bastava, todavia, nem aos judeus nem aos cristãos que Maomé demandasse dos que a ele se submetiam (“Islã” significa “submissão”) o reconhecimento da noção elementar, de lei natural, da existência de um único Criador de todo o universo. A apostasia para adesão a novel heresia, tão pouco imaginativa, não era em absoluto uma tentação para os filhos de Abraão segundo a carne ou segundo o espírito.

Assim então, não sendo pela paz, seria pela espada, decidiu o heresiarca, no que evidentemente foi imediatamente apoiado por novas supostas revelações. Daí que no Corão, o livro por ele inventado à medida da necessidade política ao longo dos anos, os primeiros versos falem bem de judeus e cristãos e os derradeiros mandem que sejam mortos: aqueles foram escritos quando ele ainda achava que seria fácil que apostatassem, e estes datam de quando ele percebeu que ninguém trocaria de bom grado o Deus criador por mero demônio do deserto árabe; cada parte revela o interesse imediato do falsificador.

Espalhando-se a partir de então pela espada, o Islã ganhou uma amplitude que jamais teria conquistado pela dissuasão. Aos judeus e cristãos dos territórios que foram sendo dominados pelos maometanos era imposta a escolha entre tornar-se muçulmano ou viver como cidadãos de segunda classe, pagando impostos escorchantes, sendo proibidos de montar cavalos ou camelos, forçados a trabalhos escravos degradantes e outros instrumentos da mais fina dialética. Os pagãos eram simplesmente passados a fio de espada se não adotassem a novíssima falsa religião. Em muito pouco tempo, o brutal crescimento do Islã veio a devastar enorme parcela do mundo então conhecido, dominando todo o norte da África — onde a selvageria muçulmana conseguiu transformar o que havia sido uma das mais ricas províncias do Império Romano num amontoado de choças de palha à sombra das antigas ruínas do tempo em que aquilo lá havia sido terra cristã e civilizada. As vastas florestas descritas na Sagrada Escritura e nos relatos de antigos peregrinos, no entorno da Terra Santa, foram transformadas em continuação do deserto árabe, diferindo apenas por ser por vezes cortado por aquedutos romanos secos como a alma de um jihadista.

Até mesmo a antiga Ibéria, terra de nossos ancestrais, amargou quase oitocentos anos de dominação muçulmana, só concluída às vésperas da descoberta do Brasil. Viena, coração da cultura europeia, já teve as hordas muçulmanas em suas portas. A Polônia e a Lituânia, por séculos, enfrentaram as incursões islâmicas em busca de escravos. Constantinopla, por sua vez, muito mais próxima da origem daquele miasma maléfico que se espalhou a partir dos desertos árabes, foi aos poucos perdendo territórios que lhe rendiam vassalagem, sendo muitas vezes ameaçada diretamente pelas hostes do inimigo maior da Cristandade que deu origem à nossa Civilização: o Islã. Sua queda, contudo, ocorreu tardiamente, às portas do início da Era Moderna. Ocorrendo, todavia, foi final: o que era Constantinopla tornou-se Istambul, o que era grego fez-se turco, e o que era cristão dobrou-se à antiga serpente.

Desde o Século VII, o Islã foi a ameaça maior à Civilização Ocidental. Séculos se passaram, durante os quais a luta entre o Ocidente cristão e o Islã foi, em muitos aspectos, o definidor de cada uma das culturas. No Ocidente, todavia, as especificidades da Revelação Cristã possibilitaram, pela primeira vez na História, que do cerne de nossa cultura surgissem instituições até hoje preciosas. Da visão cristã do Deus racional Cuja mão pode ser percebida na regularidade da Criação pôde surgir a ciência experimental, e dela a técnica. Da noção cristã de que a mais perfeita dentre todas as criaturas é uma mulher veio o respeito a esta metade da humanidade, negado em quase toda parte e viciosamente espezinhado no Islã. Da instrução do Cristo de dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César puderam surgir as várias estruturas de administração pública e justiça ligadas apenas de forma indireta à religião. Da impressão de origem divina do Santo Sudário puderam surgir as artes pictóricas ocidentais, a perspectiva e outras técnicas que dão enorme beleza a nossas artes. E por aí vai.

O resultado é que enquanto as áreas dominadas pelo Islã caíam num torpor e marasmo históricos, em que a miséria e a exploração andavam lado a lado com a intolerância, o Ocidente, sempre em luta com o ataque islâmico a seus flancos, desenvolveu-se e floresceu. Infelizmente, todavia, nas fímbrias mais distantes deste ataque, no Norte europeu semisselvagem e mal evangelizado, surgiu uma heresia, aliás de base islâmica (o protestantismo, que — como o Islã — adora antes um livro que a Deus), que por sua vez deu origem a outras, ainda mais afastadas do espírito primordial da sociedade ocidental. A partir da invenção da nova religião protestante a sociedade ocidental foi, aos poucos, afastando-se mais e mais de suas raízes, tentando edificar um castelo em pleno ar.

A Modernidade, que chegou ao poder na Revolução Francesa, ultrapassou todos os limites ao arrogar a César o que é de Deus, na sua tentativa babélica de criação de uma sociedade laicista. Nela ressurgiram os mesmos antigos horrores que se julgavam enterrados pela vitória cristã, com as mulheres sendo forçadas pela sociedade burguesa a viver trancadas em apartamentinhos, tirando pó de móveis; com a Fé sendo mal e mal tolerada, mas apenas como devoção pessoal supostamente sem efeitos na sociedade ao largo; com a técnica arrogando-se o direito de definir o bem e o mal, ao ponto de haver hoje em muitos lugares mais crianças abortadas que nascimentos vivos.

Aproveitando-se desta fraqueza e decadência moral e institucional da Civilização ocidental, e fazendo uso dos instrumentos por esta fornecidos, ressurgiu com força o perigo islâmico. A antiga inimizade entre os filhos da serpente do deserto e os filhos da Senhora que lhe pisa a cabeça, mais uma vez, fez-se notar de forma drástica, dando início ao terceiro milênio, no ataque às Torres Gêmeas do Mammon americano. O problema maior das sociedades ocidentais, entretanto, é que a ascensão do laicismo, efetuada pela exploração de um exagero da crença cristã de que há diferença entre Deus e César, só poderia ter ocorrido numa sociedade em que havia esta base a explorar como cunha para a separação total entre um e outro.

O Islã, que jamais a concebeu; o Islã, que trata tudo como subordinado à falsa revelação inventada pelo homem que, entre outros males, orgulhava-se do estupro de uma menina de nove anos de idade; o Islã, antigo inimigo da Cristandade; este não oferece orifício algum para a introdução desta cunha. O resultado é que na Turquia, por exemplo, a tentativa de laicização europeizante da sociedade efetuada por Attaturk não chegou a comemorar um século de duração. A mesma Turquia, aliás, foi responsável pela radical “limpeza étnica” de toda a margem oriental da antiga Hélade; os cristãos de cultura grega ou armênia que não aceitaram abraçar a heresia islâmica e a adoção da língua e costumes turcos ou foram expulsos (uma minoria privilegiada) ou, majoritariamente, chacinados. Esta é uma história comum entre os países em que o Islã surgiu vitorioso.

A colonização europeia do atual Terceiro Mundo, quando efetuada pelas potências mais decadentes e (ao contrário das ibéricas) mais distantes da memória da luta contra o Islã, deu aos escravos de Alá uma outra cunha contra a Civilização cristã. Esqueceram-se os franceses e ingleses da evangelização dos nativos por eles conquistados; os filhos dos ingleses, os americanos, de forma ainda pior e mais afastada da sociedade que indiretamente lhes deu origem, preferiram exterminar os nativos a anunciar-lhes o Evangelho. Nas áreas antigamente cristãs, mas posteriormente ocupadas pelo Islã, como o Norte da África, bem como nas áreas da Índia em que a intervenção inglesa impediu o avanço do anti-jihad português na Era Moderna, possibilitando que a invasão islâmica dos Mughal criasse raízes, a população dominada pelo colonialismo europeu moderno continuou nas sórdidas garras de Alá, a antiga serpente do deserto.

Hoje, com a decadência já terminal da Europa, suas antigas vítimas chegam aos milhares, trazendo com elas para o interior do esgotado solo europeu as sementes do veneno de Bafoma. Já há, só na contagem oficial do governo da França, 751 áreas de dominação muçulmana tão extremada que as mulheres que ousem sair às ruas sem véu podem ser estupradas à vista complacente dos supostamente mais sábios escravos da serpente. A polícia só entra nestas áreas em configuração de batalha, com carros blindados e metralhadoras. O tráfico de drogas uniu-se, nelas, ao tráfico dos perversos erros do Corão, fazendo de ambos os inimigos da sociedade uma só força coesa. As famílias islâmicas — em que há frequentemente várias mulheres, em vários apartamentos públicos, para cada homem — recebem a seguridade social e usam dos serviços de saúde pública, mas não mandam os filhos para as escolas laicistas. As armas com que o laicismo europeu conseguiu jogar para as margens da sociedade a mesma Igreja que deu origem a esta sociedade revelam-se incapazes de combater um inimigo que não aceita que haja algo que possa ser dado a César: para eles, só ao Alá, só à antiga serpente que idolatram, pode algo ser dado. E este “algo” é, no momento, o sangue vital das sociedades europeias. É já comum que nas horas de prostração ritual islâmicas ruas sejam fechadas para que milhares de “submissos”, na posição em que Napoleão perdeu a guerra, demonstrem sua reverência ao mesmo demônio que é inimigo figadal da sociedade que lhes dá guarida.

Este é o contexto em que Erdogan sente-se seguro em mais uma vez profanar a Catedral de Santa Sofia com as prostrações à antiga serpente: um contexto em que o Ocidente decadente, por ter ao longos dos últimos séculos perdido completamente sua espinha vertebral, que era a Fé cristã, não sabe lhe oferecer resposta. Um contexto em que os países da antiga mãe Europa vão sendo tomados de dentro para fora, como aliás o próprio Erdogan já disse que deveria ser feito. Um contexto em que a batalha entre a antiga serpente do deserto e a doce Virgem que lhe esmaga a cabeça persiste, após tantos séculos terem passado, mas hoje com a Virgem esquecida e mesmo negada por aqueles que deveriam ser seu dote. Sem a Fé cristã, a Europa só pode soçobrar aos ataques que, na mente dos escravos de Alá, apenas continuam o que foi feito desde que aquela serpente levantou sua horrenda cabeça das areias calcinadas do deserto, há quase milênio e meio.

Ou o Ocidente se lembra de quem é e de Quem o erigiu, ou teremos, em breve, mais uma expansão da já enorme mancha verde no mapa do mundo. Um mapa em que há guerra, desde a origem da heresia islâmica, em todas, absolutamente todas as zonas de fronteira entre o que os maometanos chamam de “terra da submissão” (ou Islã) e “terra da guerra” (toda área ainda não submetida àquele horror). No cerne das terras submissas, a triste paz dos cemitérios; nas divisas, a guerra; em seu exterior a presa a buscar.

Erdogan, esta triste paródia de sultão, é apenas um dentre os milhares de pequeninos déspotas que dominam as áreas dominadas pela serpente, negando às mulheres seus direitos mais básicos e impondo o atraso mais violento e brutal. Morrendo ele um dia, sua obra será continuada por outro, e por outro, e por outro. Afinal, mesmo que o Ocidente tenha se esquecido da Fé que antes o animava, o Islã jamais o fez, e continua, sempre, tentando morder o calcanhar da doce Mãe que na Cruz nos deu o Cristo. Ele sabe que somos seus inimigos, e jamais cessará de nos atacar. E nós, será que lembramos o suficiente da Fé e da História para que saibamos mais uma vez repelir seus ataques e, quem sabe, um dia fazer de Istambul Constantinopla novamente?

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